domingo, 25 de agosto de 2019

O jardim de Monarca.

Era uma vez uma borboleta chamada Monarca. Monarca era muito simpática e vistosa; adorava colorir o céu azul com o tom alegre de suas asas.
Monarca também adorava o seu trabalho: pegar os minúsculos grãozinhos de polens das flores e espalhar em diferentes lugares do jardim. Ela adorava flores. E como conhecia flores diferentes! Todas no jardim eram suas amigas.
Um dia, porém, Monarca percebeu o quanto o seu jardim era pequeno e as flores que espalhava já eram repetidas. Foi então que ela teve uma ideia: sair do jardim e percorrer o mundo para conhecer outras espécies de flores.
Só havia um problema: Monarca se achava muito pequena e frágil. Ela imaginava que na sua viagem teria que enfrentar a solidão, predadores perigosos, longas distâncias sem descansar e sem se alimentar. Monarca desistiu. Sua simpatia e alegria nunca mais foram as mesmas. Como ela ficou triste!
Certo dia, pela primeira vez, Monarca viu o jardim amanhecer coberto de uma neve branquinha e com um frio intenso. Foi nesse dia que Monarca percebeu não gostar do frio, pois o frio acabava com as cores e com a alegria do seu jardim.
Tremendo de frio, Monarca só viu uma possibilidade: encher-se de coragem e partir mundo à fora em busca de um lugar mais quente e colorido. Conversou com outras borboletas, suas amigas, e descobriu que há alguns milhares de quilômetros havia um país onde a temperatura era quente, enquanto o frio ainda reinava no jardim. Descobriu ainda que todas as suas amigas borboleta também não gostavam do frio e tinham e compartilhavam do mesmo sentimento: medo de enfrentar uma longa jornada sozinhas.
Monarca, cada vez mais disposta a abandonar o frio, propôs à suas amigas que partissem juntas. E assim foi feito. Durante a viagem elas aprenderam tantas coisas: que longas distâncias podiam ser percorridas em curtos trajetos a cada dia; que não eram tão frágeis quanto imaginavam, pois suas cores alegres e vibrantes afastavam os predadores; que, além das flores, existiam árvores gigantes sob as quais elas podiam descansar; que a viagem era prazerosa quando acompanhada de amigos verdadeiros e, a principal descoberta de todas, que o Sol pode servir de guia em qualquer jornada, pois elas chegaram ao destino mesmo sem conhecer o caminho, guiando-se apenas pelo brilho e posição desse estrela no céu.
Quando souberam que o frio no jardim havia terminado, Monarca e suas amigas voltaram para casa e contaram todas as novidades para as outras borboletas e flores, que também passaram a sonhar com uma longa viagem.
Foi assim que Monarca aprendeu que ela devia chegar em algum lugar, mesmo que não soubesse onde. Bastava olhar para o Sol e deixar ele guiar. Desde então, Monarca vive feliz para sempre! (Gilson)

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

“QUEM SOU EU?”

Esta é uma pergunta que mexe com a minha imaginação há muito tempo. Nunca estou satisfeito com aquilo que conheço sobre mim, mas desejo sempre saber qual é, de fato, a minha essência. O problema é que não posso compreender toda a amplidão da minha essência; toda a complexidade presente nesta pergunta. É como se eu possuísse várias faces que pudessem ser vistas de formas diferentes.
O autoconhecimento é um processo que dura a vida toda e que, de alguma forma, precisa da presença de outra pessoa para se realizar. O que é possível, então, é ir buscando o sentido da própria existência aos poucos. Nessa busca, várias podem ser as formas de se procurar. Uma dessas formas de procura se chama intersubjetividade.
Intersubjetividade é a relação que acontece entre duas ou mais pessoas. Sabemos que existem diversas formas de se relacionar com as pessoas. Hoje, por exemplo, está na moda o bate-papo pela internet. Não deixa de ser uma relação, mas é relação que não estabelece nenhum vínculo forte. A relação intersubjetiva não é uma relação qualquer. Ela exige encontro pessoal, diálogo atento e respeitoso, responsabilidade e acolhida, confiança e até mesmo silêncio algumas vezes.
As ideias de Gabriel Marcel, filósofo francês do final do século XIX, contribuem para a valorização do ser humano no mundo atual, tão marcado pela competência técnica e pela banalidade da essência das pessoas. No pensamento marceliano, o ser humano deve tentar esclarecer a sua própria condição partindo de experiências concretas da vida e não de um conjunto de teorias, pois o método científico reduz a realidade a enfoques fragmentários. Além do mais, o ser humano sempre transcende qualquer teoria.
Já Enrique Dussel, filósofo argentino nascido em 1934 e que é um dos maiores nomes da Filosofia da Libertação e do pensamento latino-americano, apresenta duras críticas à Pós-Modernidade (?), caracterizada pelo individualismo e pela exclusão do diferente. Dussel compreende duas realidades: a Totalidade e a Alteridade. A Totalidade é uma visão única da realidade e da pessoa humana, onde tudo e todos têm que apresentar as mesmas características. Uma vez definido o que é ser humano, todos devem enquadrar-se nesta definição. A Totalidade representa o contrário da Alteridade, que é uma visão de pluralidade, de respeito ao próximo e onde o outro é sempre novidade.
            Dependendo da via escolhida, os conceitos de “mesmo” e “outro” assumem um significado diferente. Por exemplo, na Totalidade, que é a realidade fechada em si mesma, o “mesmo” representa aquele que tem valor e que serve de modelo (o único modelo) e o “outro” é puramente o reflexo do mesmo; se for diferente, não é aceito. Já na Alteridade, que rompe com a Totalidade, o “outro” é sempre novidade e distinto. Note-se que distinto não significa a mesma coisa que diferente: “o outro” diferente da Totalidade é a cópia de “o mesmo”; “o outro” distinto da Alteridade é aquele que contribui com algo genuíno. Da mesma forma, a relação acontecida entre determinadas pessoas ou grupo de pessoas pode ser assumida sob a ótica do pensamento Totalizado, onde tudo já está determinado e não ocorre a valorização do outro, ou sob a visão da Alteridade, que é, segundo Dussel (1977), o coração que sabe ouvir a voz do outro.
           A grande questão é que não podemos deixar de ouvir a voz do outro para ouvirmos a nós mesmos. Há que fazer silêncio, mas silêncio por opção e não por opressão, como acontece quando dominamos o outro. Há que deixar que o outro seja ele mesmo.

           
           É preciso relações puras, sinceras, sem interesses ou mesmo desejo de reciprocidade. Trata-se de fazer o bem ao outro simplesmente porque ele é outro e não porque se espera algo dele. Diante do outro não é possível dizer que já se fez o suficiente e nem é possível prever antecipadamente o que fazer. O outro exige desestruturação e mudança de esquemas: as coisas são assim, mas também podem ser mais do que isso. Quando, na Totalidade, alguém se fecha em si mesmo, ensina as outras pessoas a se fecharem também; quando, na Alteridade, alguém assume livremente a condição do outro excluído para ajudá-lo a libertar-se do círculo da Totalidade, ensina que é possível uma relação intersubjetiva (de alteridade) na sua forma mais verdadeira.                         
                                                                                                                                    (Gilson)

terça-feira, 25 de novembro de 2014

BLACK FRIDAY

   Uma das datas mais aguardadas do ano está chegando. Ela compete com o Natal e dia das mães, com a diferença de não ser preciso, necessariamente, lembrar de alguém especial nesta sexta-feira, a primeira após o dia de ação de graças. A data existe única e exclusivamente para aguçar o desejo de possuir aquelas coisas que não têm a menor utilidade, mas que se tornam indispensáveis devido aos preços de banana.
   No Brasil, desde 2010 um número cada vez maior de consumidores dispostos a gastar o seu dinheiro extra de final de ano, aguarda ansioso a contagem regressiva que dá início às megapromoções. Liberadas as compras, em poucos segundos tudo acaba. Clientes e lojas felizes!
Essa avidez por comprar algo que custa uma pechincha é reflexo de algumas características da sociedade contemporânea:
  • Do desejo inconsciente de tirar vantagem em tudo. Se por um lado o senso de coletividade parece estar aumentando, sobretudo entre os mais jovens, por outro parece que cada dia mais as pessoas se fecham em verdadeiras redomas de vidro. O que interessa é apenas o mundo próprio de cada um. Meu trabalho, minha felicidade, minha segurança, minha saúde, minha vida... Para eu pensar no outro preciso receber algum benefício em troca. A barganha começa no mundo econômico, mas se estende também para vida profissional, familiar e social, onde existem os laços afetivos. Aí está o grande problema: negociar afetos e sentimentos.
  • Do cotidiano atribulado. Se os dias passassem a ter 36 horas, para alguns aficionados por trabalho elas ainda seriam insuficientes para concluir o cronograma elaborado. Existem pessoas que não conseguem se desligar de seus compromissos profissionais sequer por 10 minutos ao longo do dia. São os famosos workaholics. Já para aqueles que não são tão apaixonados pelo trabalho, existe uma lista sem fim de atividades a fazer durante o dia, motivadas pela televisão, pela internet ou pelos amigos mais próximos, preocupados em dizer o quão importante é ter algo para fazer (qualquer coisa mesmo). O importante é preencher os dias com aquelas coisas que dão prazer. Se o prazer for não fazer nada, que assim seja.
  • Da falta de sentido existencial. Quando valores nobres e causas humanitárias não preenchem uma vida, ela passa a ser ocupada por coisas. Mas coisas não satisfazem a busca por um sentido de vida. E o problema vai além quando se percebe que alguns não sabem exatamente o que buscar: não buscam algo que dê sentido à vida, mas a satisfação de algumas vontades passageiras. Compra-se. Simplesmente. Mesmo sem necessidade. Pensam que aquele objeto específico vai aquietar a angústia que têm dentro de si e que não conseguem explicar.

   Para concluir, vale ressaltar uma coisa aos que gostam de sempre tirar vantagem: algumas pessoas utilizam o termo Black Friday Fraude para indicar a maquiagem de preços realizada por algumas empresas. O lojista sobe arbitrariamente o preço do produto dias antes do Black Friday, pois dessa forma ele pode dar um mega desconto no produto, e o consumidor acreditará estar levando vantagem. Será por isto sexta-feira Negra?

terça-feira, 7 de outubro de 2014

SURPRESA E BUSCA

  O que possibilita mudanças verdadeiras em nossas vidas é qualquer experiência ou situação que, a princípio causando uma espécie de assombro, aos poucos passa a significar um questionamento fundamental e profundo, exigindo uma resposta sensata e razoável. Cedo ou tarde, chegará (ou já chegou) um momento em que deixaremos de lado as coisas banais e supérfluas para avançarmos na busca da essência das coisas, principalmente de nós mesmos. Essa questão aparece sempre confusamente: “não sei dizer quem eu sou, de onde vim, para onde vou ou por que existo”. Não saber as respostas para tais perguntas não importa tanto assim. Basta tomarmos consciência delas e aprimorar o próprio pensamento, a fim de conduzirmos nossos próprios atos.
  Heidegger, um famoso filósofo, dizia que existem três situações que levam a pessoa a pensar sobre si mesma e a buscar o sentido das coisas: o desespero de quando se obscurece o sentido das coisas, a alegria da alma num momento de felicidade e a monotonia de uma vida vazia. A forma como conduzimos a vida indica quais destas situações significará o inicio da verdadeira mudança.

  Todo ser humano tem dentro de si o desejo de buscar algo novo, mas muitos não sabem o que buscar ou buscam coisas que não são importantes. Às vezes, experimentamos e buscamos várias outras coisas antes de buscarmos apenas aquilo que nos fará felizes de verdade. (Gilson)

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O TEMPO

O QUE REALMENTE IMPORTA DO TEMPO é o que você faz com ele. É a intensidade com que ele é vivido. Assim percebemos como, de fato, a presença de alguém é especial; como detalhes simples de coisas banais são realmente incríveis e como momentos cotidianos podem se tornar inesquecíveis.
(Gilson)

quarta-feira, 5 de março de 2014

AMIZADE

"Escolho os meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Têm que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábito. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco. Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo; quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e metade velhice. Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto e velhos para que nunca tenham pressa. TENHO AMIGOS PARA SABER QUEM EU SOU. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que “normalidade” é uma ilusão imbecil e estéril”. BY ÍCARO

domingo, 16 de fevereiro de 2014

JUVENTUDE TRANSFORMADORA

NA ÚLTIMA VEZ QUE ESCREVI, discorri sobre o mal que causamos quando nos recusamos a pensar. Utilizei-me de palavras da célebre Hannah Arendt para dizer que a manifestação do ato de pensar é a habilidade de distinguir o bem do mal. Tenho clareza do enfoque negativo que dei ao comportamento humano naquele texto. Por isso apresento agora uma visão mais positiva da nossa realidade.
Ainda estão na memória dos brasileiros as manifestações ocorridas em julho de 2013 e conhecidas como “a primavera brasileira”. Elas representam um marco na história do Brasil ao apresentar o rosto de uma nova juventude comprometida com o comportamento coletivo e atuante na sociedade, ainda que desvirtuada algumas vezes e por algumas poucas pessoas.
Pesquisando sobre o tema, encontrei o Projeto Sonho Brasileiro, divulgado pela Box 1824, empresa com atuação no mapeamento de tendências de comportamento. Com uma pergunta simples: “O que você pode fazer para melhorar o lugar onde você vive?”, o projeto busca acordar o Brasil de dentro pra fora através de sonhos realizáveis que gerem um impacto positivo na vida dos brasileiros, a partir da perspectiva de jovens entre 18 e 24 anos. Para isto, foi realizada uma pesquisa, com fases quantitativa (realizada pelo Datafolha e entrevistando 1784 pessoas de 173 cidades em 23 estados do Brasil, com perfis sociais distintos, das classes A, B, C, D e E) e qualitativa (nesta fase foram entrevistos jovens das classes A, B e C, que residem nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre).
Os resultados encontrados são, na maioria, positivos e também questionadores. Destaco alguns: 25.906.194 de jovens tem entre 18 e 24 anos hoje no Brasil; 89% dos jovens disseram ter orgulho do país, enquanto 11% afirmaram ter vergonha; 76% pensam que o Brasil está mudando para melhor; 59% afirmam não ter partidos políticos e 83% analisam que os políticos se afastaram da essência da atividade da política. Quando questionados sobre qual o maior sonho, 55% responderam ser a formação profissional e emprego; 15% casa própria; 09% dinheiro; 06% família e 03% carro/moto/eletrodomésticos. Sobre como poderiam ajudar a transformar o Brasil, 56% responderam que agindo com honestidade no dia a dia e 30% aproveitando as oportunidades que o Brasil oferece. Como resposta à pergunta: como a geração atual enxerga a si mesma, temos: 35% como sonhadora; 34% como consumista; 31% como responsável; 28% como batalhadora e 8% como comunicativa.
Estes percentuais apontam uma perspectiva esperançosa para o futuro do país. Surge aí a ideia de um novo coletivo. Novo porque a ideia de coletivo que esta geração traz é bastante diferente daquela geração dos anos 70, por exemplo, representada pelos jovens que se doavam totalmente a um ideal, chegando inclusive a dar a própria vida por ele. A pesquisa indica que os jovens de hoje podem, ao mesmo tempo, afirmar que o seu bem estar individual depende do bem estar da sociedade onde vivem (77%) ou que têm que pensar em si mesmo antes de pensar no outro (59%). Pensar no outro não exclui pensar em si mesmo.
A estes jovens comprometidos com as mais diversas áreas da sociedade, a pesquisa denominou transformadores ou jovens-pontes. Suas principais características são a responsabilidade pelo coletivo, a ação e o otimismo pragmático. “Todos eles acreditam que estão transformando a sociedade.”, afirma Carla Mayumi, sócia da Box1824. Porém, mais do que apenas acreditar, eles estão de fato transformando a realidade do lugar onde vivem. Cada pequena ação, isoladamente, soma-se a outras e juntas formam verdadeiras revoluções na sociedade (entendendo revolução por uma mudança fundamental no poder político ou na organização estrutural de uma sociedade e também no campo científico-tecnológico, econômico e comportamental humano). Considerando que 8% dos entrevistados se encaixam neste perfil, significaria dois milhões de jovens, se aplicado o percentual ao total de brasileiros com faixa etária de 18 a 24, cerca de 26 milhões.
O verdadeiro “poder” de um jovem-ponte está no fato de ele transitar por diversos grupos e recolher diferentes ideias, para então redistribuí-las e conectar redes e pessoas que nunca se falariam. Este jovem funciona como um catalisador de ideias, gerando um novo tipo de influência, que se dá pela transversalidade. A este fenômeno chamamos hiperconexão. Quando uma pessoa, mais comumente um jovem, expõem suas ideias individuais na rede, qualquer pessoa que pense como ele pode começar a agir junto. Aí começa um novo movimento/organização.
“Sonhar é acordar-se para dentro”, disse Mario Quintana. Ouso fazer a minha interpretação deste pensamento: quem sonha, tem a capacidade de perceber os anseios mais profundos do próprio ser, daquilo que a alma busca como sendo essencial para a própria felicidade. E ao perceber-se “por dentro”, inevitavelmente veremos o reflexo do outro. (Gilson)